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A cerimônia, que celebra o dia do mártir da Inconfidência Mineira Tiradentes, foi marcada por protestos populares; Nelson Mandela foi o grande homenageado. Confira os homenageados de 2017.

Medalha da Inconfidência foi entregue pelo governo de Minas Gerais a personalidades nesta sexta-feira (21) em Ouro Preto, na Região Central do estado. A cerimônia – que celebra o dia do mártir da Inconfidência Mineira Tiradentes – teve como orador o governador Fernando Pimentel (PT), que também entregou as medalhas aos homenageados. Protestos populares foram registrados na cidade.

A lista de agraciados incluiu 171 nomes, dentre eles cinco políticos envolvidos nas delações da Odebrecht e em investigações da Operação Lava Jato. São eles os governadores do Acre, Sebastião Viana (PT); de Alagoas, Renan Filho (PMDB); da Bahia, Rui Costa (PT); do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), e o deputado federal Fábio Ramalho (PMDB). Destes, apenas Renan Filho compareceu.

O próprio governador Pimentel também figura em petições do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin, que enviou para o Superior Tribunal de Justiça as investigações a respeito do chefe do Executivo mineiro. (Veja no fim desta reportagem a lista com todos os agraciados)

De acordo com o governo, a homenagem é prestada a pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do estado e do Brasil. O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela recebeu homenagem póstuma com o Grande Colar, recebido pelo embaixador da África do Sul no Brasil, Ntshikiwane Joseph Mashimbye (foto abaixo).

Além de governadores e parlamentares, a lista inclui magistrados, artistas, professores, militares, juristas, médicos, advogados, gestores públicos, historiadores, religiosos e empresários.

A segurança foi reforçada na cidade histórica no feriado de Tiradentes. A caminho de Ouro Preto, houve revista rigorosa em ônibus e carros. A cerimônia começou pouco depois das 10h. Fora da área de segurança, houve protesto. Um tumulto envolvendo manifestantes e a Polícia Militar foi registrada na rodoviária da cidade.

No início do discurso do governador Fernando Pimentel (PT), presentes na praça onde a cerimônia é tradicionalmente realizada, algumas pessoas fizeram um protesto e gritaram “Fora Temer”. Em sua fala, o governador ressaltou a história do líder sul-africano Nelson Mandela, que transmitiu ao mundo mensagens de paz mesmo ficando 27 anos na prisão.

Pimentel também citou a crise brasileira e comparou as citações de crimes, sem detalhar, à conjuração da Inconfidência Mineira, revolta que culminou no enforcamento de Tiradentes.

“Aspiramos a liberdade e almejamos a justiça, hoje solapadas por uma teia de acusações que lembram as alcovas da Conjuração Mineira. Naquele episódio fundante da nossa nacionalidade, Tiradentes foi protagonista involuntário de um espetáculo e não de um processo justo. Foi protagonista da busca ardilosa de uma expiação calculada, feita mais para encobrir do que para revelar, feita mais para distrair a razão do que para iluminá-la, feita, enfim, para condenar previamente e não para buscar a verdade”, comparou.

Também sem citar a Operação Lava Jato ou a Operação Acrônimo, na qual é indiciado, o governador falou que a Justiça tem que se basear em fatos, e não em versões. E que os trâmites do processo penal não podem ser atropelados na ânsia de se “execrar” a vida dos acusados.

“Lembremos a Inconfidência: as acusações, quando a serviço de estratagemas, morrem. Os acusadores morrem. Mas a injustiça contra as vítimas da acusação infundada, essa é incontornável e irreparável. Por isso, o devido processo penal não pode ser atropelado pela ansiedade do condenar, de execrar, de justiçar. Um sistema jurídico perfeito não é aquele que se alimenta do estardalhaço. É aquele que silenciosamente não teme encarar os fatos e buscar as provas – e não apenas as versões – e constrói as decisões com serenidade e isenção. Quando uma sociedade se rende aos clamores de vingança, ela se rebaixa, deixa de ser republicana e democrática e retrocede ao estágio mais primitivo da trajetória humana”, disse o governador.

Origem da medalha

A Medalha da Inconfidência foi criada em 1952 pelo governador Juscelino Kubitscheck e possui quatro designações: Grande Colar, Grande Medalha, Medalha de Honra e Medalha da Inconfidência. Na data, um decreto do governador transfere simbolicamente a capital de Minas Gerais para Ouro Preto. A cidade foi a capital mineira de 1823 até 1897.